segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Ela que nunca fora boa com as palavras, agora sentia-se muda! Tinha na garganta uma imensidão de gritos entalados. Um emaranhado de berros empurrados goela abaixo, forçados a se acomodar num silêncio ensurdecedor. Eram dias amargos aqueles, onde as respostas para toda aquela gritaria interna, voava para um lugar onde somente a distância se encarregaria de hospedá-las. Faltava-lhe ar, faltava-lhe força e faltava-lhe fé, porque no fundo ela sabia que a descrença quando se instala, pode ser ainda mais cruel do que se imagina! Letícia G.
Havia chegado a hora de empacotar as lembranças, arquivar as carta e desligar o telefone. Era hora de lavar o rosto, trocar de roupa e guardar os presentes. Era hora de fechar as portas,trancar as lágrimas e sufocar o grito. Era hora de aposentar o sonhos, desconstruir ilusões, de agarrar-se ao futuro. Era hora da mudança. Uma mudança não na aparência, no endereço ou na decoração. Era uma mudança que não era dela, que não foi pensada e muito menos aceita. Era uma mudança que não trouxe conforto, mas instalou a bagunça e carregou as certezas. Letícia G.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Prisioneiro de si mesmo

Quando é que se tem certeza de que as escolhas feitas foram as certas? Junto a essa, haviam inúmeras questões que preenchiam por inteiro o ser daquela estranha criatura. Já não era mais uma criança e tão pouco se comportava como um adulto. Sentia medo de dormir e mais ainda de acordar. Detestava tomar decisões e conversar com estranhos. Amigos ele quase não tinha. Fazia o possível para manter a teia intocável permeada ao seu redor, impedindo qualquer mínimo contato. Os que conseguiam ultrapassar essa barreira, logo se arrependiam, porque não é fácil se emaranhar na teia alheia e sentir-se preso nas complexidades e problemas de outrem. Mas ele afinal, não queria desfaze-la. Talvez ele quisesse mesmo era ser só, mesmo convicto de que a solidão pode ser tão amarga quanto o desejo de abandoná-la. Letícia G.