quarta-feira, 21 de março de 2012

Na cama estavam espalhados os inúmeors discos dos Beatles, ocultados pela manta marrom. Ele gostava de dormir sempre coberto, mesmo nos dias mais quentes. Tinha frio nos pés.
Na cômoda, ele havia deixado o cinzeiro. Andava fumando muito.
Andava irritado também.
Talvez uma coisa levasse a outra. O certo é que eram quase duas carteiras por dia.
O odor de cigarro alastrava-se pelo quarto compondo um véu de fumaça que ele inalava profunda e diariamente.
Depositado sobre o tapete, estava o violão. Intocado. Ao lado, o amontoado de papéis rabiscados, formando uma espécie de alucinação literária. Iguais a estes, haviam mais centenas encaixotados no armário.
As cortinas estavam fechadas e assim conservaram-se durante semanas. A claridade da janela o incomodava. A brisa o incomodava. O barulho o incomodava.
O que ele precisava mesmo era de escuridão, pra acomodar aquela imensidão de covardias. Letícia G.

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